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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

" Certeza "

Resta a incerteza e um estranho medo de tentar de novo.
Aquela angústia mista de esperança e dúvida.
Apenas uma certeza: vivemos uma experiência,
estamos mais maduros, prontos para concretizar.

O "quase" não resiste aos que não desistem,
e se perde na insistência dos que acreditam,
que tudo pode ser novo de novo, e insistem.

Gente que não desiste de lutar,
porque sabe que nasceu para amar,
e o amor não é metade, não é quase.

O amor é pleno, inteiro e real,
sentimento que não se vê, se percebe:
e de tão estranho, quanto mais se dá,
mais se recebe!

O tempo que nos resta

De súbito sabemos que é já tarde.
Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas quando notamos que nos acomodamos e o sangue que temos não ferve como fervia simplesmente arde, sabemos que viemos e que vamos. Que não será aqui a nossa festa.
De súbito chegamos a saber que andávamos sozinhos. De súbito vemos sem sombra alguma que não existe aquilo em que nos apoiávamos. A solidão deixou de ser um nome apenas. Tocamo-la, empurra-nos e agride-nos. Dói. Dói tanto! E parece-nos que há um mundo inteiro a gritar de dor, e que à nossa volta quase todos sofrem e são sós.
Temos de ter, necessariamente, uma alma. Se não, onde se alojaria este frio que não está no corpo?
Rimos e sabemos que não é verdade. Falamos e sabemos que não somos nós quem fala. Já não acreditamos naquilo que todos dizem. Os jornais caem-nos das mãos. Sabemos que aquilo que todos fazem conduz ao vazio que todos têm.
Poderíamos continuar adormecidos, distraídos, entretidos. Como os outros. Mas naquele momento vemos com clareza que tudo terá de ser diferente. Que teremos de fazer qualquer coisa semelhante a levantarmo-nos de um charco. Qualquer coisa como empreender uma viagem até ao castelo distante onde temos uma herança de nobreza a receber.
O tempo que nos resta é de aventura. E temos de andar depressa. Não sabemos se esse tempo que ainda temos é bastante.
E de súbito descobrimos que temos de escolher aquilo que antes havíamos desprezado. Há uma imensa fome de verdade a gritar sem ruído, uma vontade grande de não mais ter medo, o reconhecimento de que é preciso baixar a fronte e pedir ajuda. E perguntar o caminho.
Ficamos a saber que pouco se aproveita de tudo o que fizemos, de tudo o que nos deram, de tudo o que conseguimos. E há um poema, que devíamos ter dito e não dissemos, a morder a recordação dos nossos gestos. As mãos, vazias, tristemente caídas ao longo do corpo. Mãos talvez sujas. Sujas talvez de dores alheias.
E o fundo de nós vomita para diante do nosso olhar aquelas coisas que fizemos e tínhamos tentado esquecer. São, algumas delas, figuras monstruosas, muito negras, que se agitam numa dança animalesca. Não as queremos, mas estão cá dentro. São obra nossa.
Detestarmo-nos a nós mesmos é bastante mais fácil do que parece, mas sabemos que também isso é um ponto da viagem e que não nos podemos deter aí.
Agora o tempo que nos resta deve ser povoado de espingardas. Lutar contra nós mesmos era o que devíamos ter aprendido desde o início. Todo o tempo deve ser agora de coragem. De combate. Os nossos direitos, o conforto e a segurança?. Deixem-nos rir… Já não caímos nisso! Doravante o tempo é de buscar, deveres dos bons,. descomplicar a vida. de dar e receber até que o tempo se lembre de nós, mas antes não queremos perder nem mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um instante do tempo que nos resta, para amar e sermos felizes.