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sábado, 20 de fevereiro de 2010

A minha Caixinha…



Há algum tempo eu tranquei a porta da minha caixinha. Eu a havia guardado lembranças de uma vida , impossível de refazer, e de repente achei que era melhor deixar assim. Peguei a chave e guardei em uma caixinha branca. Na tampa da caixinha branca havia desenhado um símbolo. Um símbolo igual àqueles que eu havia aprendido. Para quem olhasse a caixinha soubesse do inconveniente que seria abri-la.

Pode parecer, estranho uma caixinha fisicamente vazia ser inconveniente. Mas eu conto agora que aquela caixinha vazia não era tão vazia assim. Ela não tinha sofás, camas ou armários. Não tinha quadro algum ou fotografia alguma na parede. Não havia ninguém, nem uma viva alma. Mas havia muitas coisas que ainda estavam vivas naquela caixinha. Ela estava lotada de lembranças e sentimentos. Era uma caixinha minha, só minha, que eu não queria que ninguém mais entrasse. Eu julgava que não queria.

E por isso, numa tarde dessas, fui até a minha praia predilecta. Senti o sol aquecer minha pele e a areia fazer cócegas nos meus pés. Senti o cheiro do mar e os seus carinhos em minhas pernas quando cheguei bem perto das suas ondas. E lá joguei fora a caixinha branca, com a chave na tampa e Joguei com força para que ela fosse parar lá no fundo do mar, e gozasse da paz do oceano, transmutasse aquelas vivencias.

Eu julgava impossível que mais alguém entrasse. Que ninguém mais visse meus sentimentos, ou pinturas e azuis no chão, os trechos predilectos, das minhas músicas preferidas os meus sonhos coloridos e muito menos meus textos bonitos escritos com giz colorido nas telas.

Mas depois de tanto tempo fechada, sem ninguém entrar, as pinturas e azuis no chão desbotaram e hoje têm cor cinza. Eu nem mais me lembro por que aqueles trechos eram meus trechos predilectos daquelas minhas músicas preferidas. E os textos bonitos escritos com giz nas telas não fazem mais sentido, a cor desbotou e eles ficaram brancos. As lembranças e sentimentos que enchiam a caixa por serem vivos de mais, não chegaram a morrer, mas certamente pararam de gritar. De girar e correr e dançar a ponto de me confundir. E o que parece, sem me precipitar, é que o perigo passou.

A caixa hoje poderia ser aberta, alguém poderia entrar e eu poderia pintar novas telas, novas cores no chão, dessa vez talvez usaria o amarelo, o prata, e não o azul. Eu poderia escolher novos trechos predilectos e ter novas músicas predilectas para rabiscar na tela. E eu poderia escrever novos textos bonitos nas paredes e, quem sabe para durar mais, eu usaria tinta guache.

O único problema é que a caixinha com a chave está lá no fundo do mar. Ou, se saiu de lá, ainda não voltou para as minhas mãos. E hoje eu só tenho um pedido a fazer. Pedir que, caso alguém ache a minha caixinha branca, com a chave na tampa. Poderia, por gentileza, trazer de volta para mim?...