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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"A ti Saudeda"


Querida saudade.

Nunca me passou pela cabeça escrever-te estas linhas, até porque, converso contigo com frequência. Contudo, tu sabes bem o quanto gosto de escrever e tendo havido quem me tivesse desafiado a fazê-lo à boa maneira de antigamente, que é como quem diz, escrever uma carta.

Não hesitei! Logo de imediato, foi sobre ti que recaiu a minha escolha. Se haveria de escrever a alguém…, que fisicamente não tenho e com as novas tecnologias já não existe distância, e porque não fazê-lo com quem nos faz sentir bem, que me ensinou que saudade não é um sentimento que magoa mas sim que nos apaziguar, pois só pode sentir quem já viveu momentos bons, ainda que, inevitavelmente, recordando o que ou quem já não volta nunca mais, ou situações que ficam suspensas, ou ainda de ilusões vividas, mas não realizadas, ou de que se não repetirá jamais e em tempo algum a não ser na revivência das imagens que continuam intocáveis nas nossas lembranças do passado. Coisas que ambas conhecemos e que em ti confiei que me as tivesses guardado, qual tesouro que apenas tu me permites reencontrar quando sinto necessidade...

São como pedras preciosas, heranças antigas das quais não nos queremos desfazer.

Ainda ontem estiveste ao meu lado, quando me revisitei entre pedaços de memórias que me devolveram a imagem de alguém que me foi muito especialmente querido e que só contigo continuo a sentir tão vivo como se nunca tivesse partido. Obrigado por me permitires tudo isso!
Tu sabes o quanto és importante para mim, nem preciso dizer-te...

Sabes do que falo quando nada digo. Quando te chamo e simplesmente me apetece ficar em silêncio na tua companhia e nas boas lembranças que só tu me permites que reviva. É por isso que hoje te escrevo, para te agradecer tudo isso e pedir que assim continue por todo o tempo que ainda me for possível. Porque um dia, talvez já não consiga sequer sentir. Nesse dia, não me importarão mais as notícias da economia nem os males do mundo. Não me importarão mais as coisas a que hoje dou valor:

As pessoas, os animais, os livros, a música, os computadores... Porque quando, e se esse dia chegar, será certo que será o primeiro dos breves e últimos dias deste fim.

Aos olhos dos outros, especialmente daqueles que só me conhecem pelo que escrevo, até lhes poderá parecer que sou uma pessoa melancolicamente triste e agarrada ao saudosismo, sempre a bater na velha e já tão gasta tecla dos sentimentos e daquilo que já se foi, ou que em breves momentos existiu. Mas tu bem sabes que não é assim. Muito pelo contrário; sou muito alegre e comunicativa!, com o meu lado criança traquinas ainda muito vivo sabes que adoro rir e brincar. Mas que hei-de fazer? Tenho esta mania, feitio, de ser sentimentalmente sensível a determinadas coisas... por, outro lado necessito também da minha pacatez dos dias, da simplicidade das coisas, longe das futilidades que assolam a sociedade e embrutecem as mentes dos insignificantes seres que se julgam grandes, quiçá os donos do seu microscópico mundo. Sei que me entendes. Os outros, esses... é que não iriam entender.

Bem, já me sinto a divagar e não é esse o propósito desta missiva. Por isso vou terminar por aqui. Mas não me vou sem antes te agradecer:
Obrigado por me acompanhares mais uma vez nesta quase carta de desabafo, querida saudade.

Aceita um afago desta que muito te estima
Neste momento de recolhimento.