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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Minha Alma Partiu-se (Álvaro de Campos, in "Poemas")

(Ai! Como me identifico…)

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Libertar-me das amaras…


Libertar-me das amaras…

Sinto uma tristeza
Sem fim
Dentro de mim
O meu coração
Bate como um relógio
Sinto um calafrio
Dentro de meu ser
Esta dor é tão forte
Que quase me derruba
A minha mente
Desapareceu no infinito
Não sei explicar
Este vazio dentro
Do meu corpo
Como continuar
Gostava de ser uma semente
Para ser transportada pelo vento
Gostava de soltar a minha mente
E deixa-la á deriva por um momento
Sem parte definida
Sem local de chegada
Sem destino premeditado
Queria voar, voar, voar,...
Queria sentir, sentir,...
Queria apanhar,...
Essa liberdade de viver
Ser livre no tempo
Soltar todo o meu ser
Libertar-me das marras da vida
Ser livre de voar pelo mundo
Ai, como eu queria ser assim
Poder dar fim
A esta dor que queima dentro de mim